Christian Chávez: 'Imprensa me tirou do armário de forma agressiva aos 23'
Era março de 2007. O RBD lotava estádios nas Américas e na Europa, e Christian Chávez, um dos membros do grupo musical mexicano, foi "tirado do armário" e teve sua sexualidade exposta.
Fotos nas quais aparecia com outro homem vazaram, e ele teve que explicar que é homossexual e que não havia falado antes "por medo de rejeição mas, sobretudo, por sua família e pelas consequências".
Hoje, aos 40, Christian usa a música para abordar traumas e o processo de aceitação pelo qual ou. "Era necessário", afirma o artista em entrevista para Splash sobre o EP "Sí". O carro-chefe do novo projeto, a música "Si Mañana Me Voy" fala sobre "as feridas que deixam marcas e fazem ver coisas boas".
Há muito tempo, a imprensa tirou a oportunidade de eu falar da minha sexualidade. Eles me puxaram para fora do armário de uma forma muito agressiva para uma pessoa que só tinha 23 anos. Isso causou muita dor e autodestruição. Cheguei a me cobrar pelo tempo e sonho que eu havia perdido, porque eu queria ser eu, por minha sexualidade.
O novo EP nasceu após ele se reconectar com o "Christian criança" na última turnê do RBD, a "Soy Rebelde Tour", em 2023. Por recomendação de seu terapeuta, ele escreveu uma carta para seu eu do ado antes do início dos shows e, assim, começou todo o "processo de amor, valor, autoaceitação e sem medo".
Nos shows, ele fazia ode à autoaceitação e dizia que "devemos ser nós mesmos e fod*-se quem achar ruim". "Consegui levar a minha expressão sexual e a minha parte mais queer ao palco. Foi maravilhoso, aquele menino brincou muito."
As palavras da carta viraram letras de músicas "honestas e vulneráveis" em um "processo de autoamor", afirma o músico. "Eu tinha que trazer essas ideias e palavras, e fazer as pazes também com a música, recuperar minha história. Minha narrativa foi tirada de mim. Muitas pessoas falaram sobre minha vida. Agora, eu tenho 40 anos e, finalmente, compreendi o que amor-próprio."
O caminho até essa reconstrução, no entanto, ou por períodos difíceis de saúde mental. As feridas de aceitação, de abandono, de rejeição o levaram a buscar ajuda psicológica. "Isso é algo muito importante de falar, porque, se a gente não tem saúde mental, você não tem nada."
Christian diz que precisou desconstruir ideias impostas a ele, em especial por ter crescido dentro da Igreja Católica. Hoje, ele quer ajudar fãs a não arem pelos mesmos traumas e se engaja em pautas LGBT no México. "Crescer ouvindo sobre pecado e culpa é algo que faz muito mal ao ser humano, especialmente a nós que somos parte da comunidade LGBT."
Sim, sou bicha. Sim, sou puto, se sou todas essas palavras que me fizeram tanto mal... Agora, eu as utilizo como uma arma. Isso é maravilhoso.
Novo EP e relação com o Brasil
O cantor explica que "Si Mañana Me Voy" é uma canção que aborda o medo de morrer, mas, ao mesmo tempo, fala sobre começar de novo. "É importante falar: eu ei por tudo isso, mas olha onde estou. Você consegue se levantar de novo."
Já "Si Hablara de Él" coloca o cantor em terceira pessoa. "Sempre me questionei: será que as pessoas me amariam se soubessem essas coisas de mim? As pessoas ainda iam me amar e aceitar se eu fosse honesto e transparente?"
"Si Solo", por sua vez, é uma confrontação pessoal. É nesse momento que Christian diz: "Estou sendo completamente honesto e falando de coisas que eu não consegui a vida ainda. Uma forma de exorcizar é falar a verdade".
Para Christian, o Brasil representa um "lugar seguro", por isso, a faixa homônima traz referências à bossa nova e à "Garota de Ipanema", composta por Tom Jobim e Vinicius de Moraes. "Com RBD ou sem RBD, Brasil me faz sentir em casa. Quando o produtor musical me falou 'feche os olhos e pense num lugar onde você é feliz e trate de ouvir a música', eu pensei no Brasil."
Brasil é o lugar onde me sinto livre, não sou julgado... A conexão com o povo brasileiro é maravilhosa desde a primeira vez que pisei no Brasil. Foi 'wow'. Tenho uma conexão longa e especial. Acho que na minha vida ada eu fui brasileiro. Assim, decidi começar a estudar português para falar com as pessoas e ter mais conhecimento da cultura.
Nos últimos anos, em carreira solo, ele se apresentou em cidades fora do eixo Rio-São Paulo, como João Pessoa, São Luís e Belém. "É maravilhoso conhecer toda a riqueza cultural que tem no Brasil. Nossa, é tanta música, comida, cor e felicidade. É uma paixão."
RBD pode voltar?
Além de uma possível nova turnê, fãs do RBD esperam por lançamentos relacionados à turnê de reencontro do grupo em 2023. Um documentário sobre a "Soy Rebelde Tour" e um registro audiovisual do show em São Paulo foram anunciados, mas nunca lançados.
A turnê de reencontro terminou cercada de polêmicas e acusação de rombo financeiro contra o empresário por três membros do grupo —Christian, Maite Perroni e Christopher Uckermann. Publicamente, os três interagem bastante entre si, mas não com Anahí, que também já foi gerenciada por Guillermo Rosas, e Dulce María.
Todos podemos continuar sonhando porque os sonhos viram realidade, eu amaria poder voltar com o grupo, que as coisas fiquem melhores, mas também compreendo que são processos naturais, já não estou lutando com eles, estou disposto a fazer coisas, mas estou deixando que as outras pessoas conheçam os seus processos.