Com cálculos baseados na Bíblia, Newton profetizou ano do 'fim do mundo'

Em 1704, Sir Isaac Newton, renomado físico e matemático, escreveu uma carta prevendo que o mundo poderia acabar em 2060 — daqui a 35 anos.
O que aconteceu
Newton via a Bíblia como uma espécie de 'código divino'. Ele acreditava que as Escrituras continham mensagens cifradas que, se decifradas corretamente, revelariam os planos de Deus para a humanidade.
A data de 2060 surgiu de cálculos específicos. Newton utilizou o princípio "dia-por-ano", interpretando 1.260 dias proféticos mencionados no Livro de Daniel como 1.260 anos. Ele somou esse período ao ano 800 d.C., quando Carlos Magno foi coroado imperador do Sacro Império Romano, resultando no ano 2060 como possível marco do fim dos tempos.
Os dias proféticos aparecem no Livro de Daniel como parte das visões apocalípticas que descrevem o fim dos tempos. Eles são citados em Daniel 7:25 de uma forma cifrada, que requer uma interpretação além do texto bíblico.
Disse assim: O quarto animal será o quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços. E, quanto aos dez chifres, daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis. E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão, por um tempo, e tempos, e a metade de um tempo.
Daniel 7:23-25
A expressão "tempo, tempos e metade de um tempo" é tradicionalmente interpretada como três anos e meio. No calendário bíblico, que tem 360 dias, a expressão totaliza então 1.260 dias — ou, como Newton interpretou, 1.260 anos.
Essa interpretação se conecta diretamente com outros textos proféticos. Em Apocalipse 12:14, essa mesma expressão aparece: "e a mulher fugiu para o deserto [...] por um tempo, tempos e metade de um tempo". Logo antes, em Apocalipse 12:6, é dito que a mulher permanece no deserto por 1.260 dias, mostrando que os 3 anos e meio equivalem a esse mesmo período, levando em conta o calendário de 360 dias por ano (3,5 × 360 = 1.260).
Outras agens bíblicas também influenciaram seus cálculos. Newton considerou períodos de 1.290 e 2.300 dias mencionados em Daniel, aplicando o mesmo raciocínio para chegar a outras datas possíveis, como 2132 e 2374. No entanto, 2060 foi a mais próxima e, portanto, a que mais chamou atenção.
Para Newton, o "fim do mundo" significava uma renovação espiritual. Ele não previa uma destruição física do planeta, mas sim o fim de uma era de corrupção e o início de um período de paz sob o reinado de Cristo.
A intenção de Newton era combater especulações infundadas. Ele escreveu que não pretendia afirmar com certeza quando o fim ocorreria, mas sim desencorajar previsões precipitadas que desacreditavam as profecias sagradas quando falhavam.
Seus manuscritos foram preservados e estudados posteriormente. Após sua morte, muitos de seus escritos teológicos foram adquiridos por colecionadores e, eventualmente, doados à Universidade Hebraica de Jerusalém, onde estão disponíveis para pesquisa.
Os documentos foram exibidos em 2007, após 38 anos guardados. À época, a Universidade Hebraica de Jerusalém criou a exposição intitulada "Os segredos de Newton". "Ele se aproximou destes estudos com a mesma meticulosidade demonstrada em seu trabalho como cientista e se aproximou da ciência com o fervor religioso que o levou a ser considerado um tipo de profeta", disse a universidade em nota.
Newton se esforçou para decifrar o que ele considerava que eram conhecimentos secretos, conhecimentos codificados nas escrituras sagradas de culturas antigas e de outros arquivos históricos.
Yamima Ben Menahem, filósofa e curadora da exposição