Robert De Niro homenageia o pai, um pintor expressionista, em filme íntimo

Robert De Niro, 81, vai trocar os aclamados papéis em filmes de gângster por um projeto íntimo: o ator está finalizando um documentário sobre seu pai, Robert De Niro Sr., um pintor expressionista que morreu em 1993, quase anônimo. No Festival de Cannes deste ano, o veterano detalhou a obra, que mescla arte, memória e uma espécie de reconciliação familiar.
O que aconteceu
Durante o célebre festival de cinema, De Niro mostrou trechos inéditos do filme documental. No evento, ele foi homenageado com a Palma de Ouro honorária.
Quero que meu pai seja lembrado. É por isso que sempre levo a minha família, os meus filhos e os meus amigos ao seu estúdio Robert De Niro
Documentário, que ainda não tem título, é descrito pelo ator como uma espécie de "terapia". "Não é algo com linha de chegada definida. Descobrimos à medida que avançamos, deixando o filme acontecer", explicou. O trabalho reúne fotos gigantes do pai, diários inéditos e reflexões profundas sobre paternidade, legado e morte.
Uma das cenas mais impactantes mostra De Niro deitado sobre uma fotografia ampliada do pai. A imagem foi registrada em um barco no rio Hudson, criando a sensação de que o ator está no colo do pai. "Tenho medo da morte, mas não tenho escolha. Então melhor não temê-la. É preciso aprender a abraçar a vida, seguir em frente e aceitar tudo o que ela tem de bom e de ruim", disse.
Um artista esquecido
Robert De Niro Sr. teve algum destaque nas décadas de 1940 e 1950, mas foi ofuscado pela ascensão da Pop Art nos anos 60. Frustrado, viveu à sombra do reconhecimento que desejava. Seus pensamentos estão registrados em cartas e poemas agora resgatados pelo filho.
O ator confessa que evitou lidar com a memória do pai por muito tempo. No evento, ele fez uma reflexão sobre como agiu na juventude.
Eu deveria ter ado mais tempo com o meu pai e feito mais visitas ao longo dos anos. Mas parte de mim não quis ficar por perto. Os mais jovens sempre preferem seguir com a própria vida, experimentar as coisas por si mesmos e não querem ser lembrados das coisas negativas Robert De Niro
Além da distância emocional, havia o medo de ser confundido com o pai. "Ao ingressar nas artes dramáticas, o ator teve receio de ser confundido com o pintor, por levar o mesmo nome", lembra o veterano.
Descobertas conflitantes
Documentário também aborda os conflitos internos de De Niro Sr., que demorou a se assumir homossexual. Ele saiu de casa quando o ator tinha apenas dois anos. Mais tarde, viveu com o poeta Robert Duncan. "Acho que eu não estava pronto para ler o que meu pai escreveu antes", confessou De Niro.
Desde sua morte, o estúdio do artista no SoHo permanece quase intocado. Uma parte dessa história já foi abordada no curta "ing the Artist", de 2014, para a HBO, mas o novo projeto mergulha de forma mais profunda nas emoções da família.
Martin Scorsese, parceiro de longa data de De Niro, aparece em uma das cenas. Em um estúdio, pergunta: "Por meio de imagens, você está revisitando o seu pai e o ado. Por que agora?". O ator responde apenas: "É um sonho. É surreal". Scorsese insiste: "Você acha que um sonho é muito diferente da realidade?". A resposta é outra frase curta: "Às vezes, a própria realidade não parece tão real".