Bolsonaro depõe à PF na semana que vem em inquérito contra Eduardo

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depõe na próxima quinta (5) na Polícia Federal em Brasília dentro do inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal) para investigar a atuação nos EUA de seu filho Eduardo Bolsonaro em atacar o Supremo e tentar prejudicar o andamento do processo judicial de seu pai.
O que aconteceu
A PGR pediu para ex-presidente ser ouvido. O depoimento foi uma das medidas que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, solicitou ao pedir a abertura da investigação. Bolsonaro disse em entrevistas que estaria bancando a estadia do filho no exterior. Eduardo anunciou em abril que iria se licenciar do mandato de deputado federal para ficar nos EUA.
O depoimento deverá ser realizado às 15h na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. A informação foi revelada pelo jornal O Globo e confirmada pelo UOL com a defesa do ex-presidente, que preferiu não comentar sobre o caso.
Para a PGR, Eduardo tenta interferir no Judiciário para beneficiar Bolsonaro. Segundo Gonet, há "evidências" de que o deputado estaria buscando "interferir no andamento regular dos procedimentos de ordem criminal, inclusive ação penal, em curso contra o sr. Jair Bolsonaro e aliados". Bolsonaro é réu em ação no STF, apontado como chefe de uma organização criminosa que tentou um golpe de Estado para mantê-lo na Presidência após sua derrota nas eleições de 2022.
Gonet aponta que há indícios de que o parlamentar estaria cometendo os crimes de obstrução contra investigações, coação no curso do processo e atentado à soberania do Brasil. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, é o relator do processo.
Por estar fora do Brasil, depoimento de Eduardo pode ser por escrito, decidiu o ministro. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, deve indicar quais as autoridades diplomáticas brasileiras nos Estados Unidos estão aptas a prestar os esclarecimentos solicitados pela PGR.
PGR afirma que Eduardo estaria articulando sanções dos EUA ao ministro Alexandre de Moraes para "coagir" o STF. Na petição, Gonet cita declarações dadas pelo deputado à imprensa de que estaria realizando agendas com congressistas americanos e membros da gestão Trump para impor medidas do país contra Moraes, como proibi-lo de realizar transações, abrir contas em bancos e usar o cartão de crédito.
Na quarta-feira, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, disse que "há grande possibilidade" de Moraes sofrer sanções. Afirmou que o país pode aplicar uma lei que permite punir estrangeiros por violação de direitos humanos. O deputado republicano Cory Mills alegou a Rubio que Moraes age politicamente para perseguir Bolsonaro, considerado aliado de Trump.
Gonet fala em "intuito de embaraçar" julgamento do STF e de "perturbar" o trabalho da PF no inquérito das fake news. Ainda segundo o procurador-geral, a "motivação retaliatória" aponta que não somente integrantes do Supremo, da Polícia Federal e da PGR estariam "sob ameaça", mas também seus familiares.
O que diz Eduardo
Eduardo alega que mantém o tom político desde que foi para os EUA em março. Ele se defendeu da nova postura da PGR, relembrando que quando se mudou para os Estados Unidos teve um pedido de apreensão de aporte arquivado. Naquele momento, diz o deputado, "o PGR disse que minha atividade era lícita". Agora, segundo o deputado, o órgão decidiu mudar de opinião. Ele se diz perseguido politicamente e diz que, no país, "a Justiça depende do cliente".
Na publicação, no X (antigo Twitter), Eduardo ainda reclamou de Alexandre de Moraes. "Organizou jantar e fez chacota de mim", se queixou o deputado licenciado da conduta do ministro da Suprema Corte. "O establishment fez o que os arrogantes sabem de melhor: desdenharam e me humilharam", escreveu Eduardo.
"Sanções contra Moraes estão a caminho", disse o terceiro filho de Bolsonaro. "Eu não mudei meu tom. Não há conduta nova. Há um PGR agindo politicamente. É por isso que reafirmo: no Brasil há um Estado de exceção, a 'justiça' depende do cliente, o processo depende da capa."