Morre Niède Guidon, arqueóloga que ajudou a datar o povoamento das Américas

Morreu hoje, aos 92 anos, a arqueóloga Niède Guidon. A causa da morte não foi revelada.
O que aconteceu
Niède dedicou sua vida à pesquisa e à preservação do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. Nas redes sociais, o parque anunciou seu falecimento. "Sua trajetória deixa um legado imensurável para a ciência, a cultura e a memória do nosso país. Seu nome está eternamente gravado na história", diz a nota.
A arqueóloga fundou a Fumdham (Fundação Museu do Homem Americano) na década de 1980. O objetivo era istrar o parque, que abriga alguns dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo. Hoje, a área é mantida em parceria com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Niède nasceu em Jaú (SP). Ela se graduou em história na USP em 1959 e se especializou em Arqueologia Pré Histórica em Paris, cidade onde também fez doutorado e pós-doutorado.
Após ficar oito anos em Paris, Niède foi para São Raimundo Nonato (PI) em 1973. A partir daquele ano, pelo resto de sua vida, Niéde Guidon seria conhecida por todos na cidade como "doutora".
Em 1979, Niède conseguiu que o Governo Federal criasse o Parque Nacional da Serra da Capivara. Com uma área de 100 mil hectares, o parque abrange os municípios de São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias.
Uma de suas teses mais conhecidas é sobre a datação do povoamento das Américas: Guidon encontrou vestígios de fogueiras no sítio arqueológico do Boqueirão da Pedra Furada que acredita datar de 32 mil anos AP (antes do presente), tendo publicado na revista Nature um artigo sobre o tema, em 1986.
Hoje, o Parque Nacional da Serra da Capivara é considerado um dos mais importantes sítios arqueológicos do planeta. Durante uma homenagem aos 90 anos de Niède, a então prefeita de São Raimundo Nonato, Carmelita Castro, afirmou à imprensa local que "existe um Piauí e uma São Raimundo Nonato antes e depois de Niéde Guidon."
As teorias científicas sempre precisam ser provadas. Acredito que nossos trabalhos foram feitos com muita seriedade, conhecimento e profissionalismo. Se ainda há quem tenha dúvidas, deve trabalhar da mesma forma e, então, discrepar ou concordar com as devidas justificativas. Niéde Guidon, em 2023
A comunidade científica também lamentou o falecimento de Niède. Em nota, a UFPI (Universidade Federal do Piauí) afirmou que "Niède Guidon deixa um legado de compromisso com a ciência, com a valorização da memória ancestral e com o desenvolvimento social e cultural do semiárido piauiense. Sua contribuição continuará inspirando gerações de pesquisadores e cidadãs e cidadãos comprometidos com a história e o conhecimento."
(Com Mongabay)