Advogado indígena será presidente da Suprema Corte do México
Hugo Aguilar, um advogado indígena que foi assessor de uma guerrilha zapatista, será o presidente da Suprema Corte do México, segundo a contagem oficial de votos concluída nesta quinta-feira (5).
A mudança no posto-chave, reservado por muito tempo para juristas da elite, ocorre após eleições sem precedentes de domingo, nas quais o México se tornou o primeiro país do mundo a eleger todos os juízes por votação popular.
A página oficial do Instituto Nacional Eleitoral (INE) detalha que Aguilar, com 5,3% dos votos, é o candidato mais votado entre os aspirantes a ministros e, por lei, deve comandar o principal tribunal do país, de nove membros, que será formado por outros três homens e cinco mulheres.
Este indígena mixteco, nascido em 1973 no estado de Oaxaca (sul), é considerado próximo ao governo liderado pela presidente esquerdista Claudia Sheinbaum, embora sem militância política, e possui uma carreira na defesa dos direitos dos povos originários.
O novo magistrado afirma que existe "uma dívida importante" com os povos originários. Aguilar segue os os de seu mais célebre conterrâneo, Benito Juárez, considerado pai do México moderno.
Também indígena, Juárez liderou a Suprema Corte (1857-1858) antes de se tornar presidente do país (1858-1872).
A votação de domingo contou com a participação de 13% dos cerca de 100 milhões de eleitores, segundo a contagem oficial.
- Eleição controversa -
O triunfo de Aguilar foi a surpresa, pois se antecipava que a presidência do máximo tribunal iria para Lenia Batres, ministra em exercício e militante do partido oficialista Morena, que terminou como a segunda mais votada.
Os outros sete juízes que completarão o alto tribunal, incluindo outras duas ministras, também são considerados próximos ao partido no poder.
A esquerda controla amplamente o Legislativo e governa a maioria dos estados deste país de quase 130 milhões de habitantes.
O oficialismo, segundo a contagem oficial que continua por etapas, também estará amplamente representado no tribunal de disciplina judicial.
Na quarta-feira, quando a vantagem de Aguilar se tornava mais clara, a presidente Sheinbaum celebrou sua vitória.
"Fico muito feliz que o próximo presidente da Suprema Corte seja um indígena mixteco de Oaxaca, muito bom advogado, tenho o privilégio de conhecê-lo", disse em sua coletiva de imprensa diária.
Esta eleição judicial foi duramente criticada por opositores e especialistas em direito desde que foi aprovada, em 2024, a reforma constitucional que mudou o sistema.
O ex-presidente Andrés Manuel López Obrador (2018-2024) impulsionou a reforma após enfrentar o bloqueio judicial a projetos ambiciosos, argumentando que a eleição popular dos juízes permitiria acabar com um sistema que considera corrupto.
Mas, para seus detratores, o verdadeiro objetivo é controlar o Poder Judiciário e acabar com o único contrapeso ao oficialismo.
De diferentes setores, e até mesmo dos Estados Unidos e Canadá, parceiros comerciais do México, também advertiram que, com este novo sistema, os juízes poderiam se tornar presa fácil de interesses políticos e até do crime organizado.
O México celebrará em 2027 uma segunda eleição judicial para designar os restantes magistrados locais em 13 dos 32 estados do país.
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