As principais operações secretas ucranianas em solo russo
As principais operações secretas ucranianas em solo russo - Ucrânia ataca cada vez mais alvos no interior da Rússia, alguns de forma espetacular.Explosões em trilhos ferroviários nas regiões russas de Belgorod e Voronezh nos últimos dias causaram o descarrilamento de trens. Ninguém ficou ferido, segundo informações oficiais, e as autoridades russas estão investigando os casos como suspeita de terrorismo.
As explosões ocorreram após uma série de atos de sabotagem na Rússia que foram notícia em todo o mundo e que são atribuídos às atividades dos serviços secretos ucranianos, o SBU e o HUR.
Destruição de logística
Como as ferrovias russas são usadas para transportar munição e combustível para as Forças Armadas, elas têm sido alvo de atos de sabotagem pelos dois serviços secretos ucranianos.
Em 30 de novembro de 2023, agentes do SBU explodiram um trem carregado com combustível num túnel da linha Baikal-Amur. A explosão interrompeu por vários dias a principal linha de abastecimento para as regiões orientais da Rússia.
Em 1º de junho de 2025, quase ao mesmo tempo, duas pontes ferroviárias desabaram, causando o descarrilamento de trens e a morte de sete ageiros nas regiões russas de Briansk e Kursk. As autoridades russas estão investigando essas explosões como terrorismo e responsabilizam os serviços secretos ucranianos.
Ataques à ponte da Crimeia
A ponte que liga a Rússia à península ucraniana da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, foi inaugurada em 2018. Essa ponte dupla de 18 quilômetros (uma via rodoviária, a outra ferroviária) é um elemento central da propaganda russa e uma das vias mais importantes para o abastecimento das tropas russas. O SBU já organizou três ataques à ponte, expondo fragilidades nas defesas russas.
Na manhã de 8 de outubro de 2022, um caminhão carregado com explosivos vindo da região russa de Krasnodar explodiu sobre a ponte. Cerca de cem metros da via rodoviária desabaram. Além disso, oito tanques de diesel que estavam nos trilhos ferroviários ao lado pegaram fogo.
"A operação foi planejada ao longo de seis meses, e os explosivos foram transportados por empresas de fachada pela Geórgia, pela Armênia e pelo Cazaquistão para escapar do controle russo", explicou o chefe do SBU, Vasyl Malyuk.
O tráfego na ponte ficou interrompido por 22 dias, o que gerou escassez de combustível e de munição na Crimeia e forçou os militares russos a transportarem suprimentos pelos territórios ocupados da região de Zaporíjia.
O ataque teve ainda um profundo impacto psicológico, pois demonstrou que instalações russas fundamentais para a guerra eram vulneráveis mesmo com um forte esquema de segurança.
Um novo ataque ocorreu em julho do ano seguinte. A Rússia havia sido forçada a reforçar a segurança da ponte da Crimeia com caros sistemas de defesa aérea S-400. Mesmo assim, outro ataque ocorreu logo em seguida – não do ar, mas a partir do mar.
Dois drones marinhos explodiram perto dos pilares da ponte. Mais uma vez, a Rússia foi forçada a restringir o tráfego, desta vez por um mês. O ataque também marcou o início de uma série de ataques com drones que limitaram o domínio russo no Mar Negro.
Em dezembro de 2024, o SBU atacou um navio que transportava materiais de construção para reparos na ponte. Dois drones kamikazes atingiram o navio no Estreito de Kerch, destruindo sua carga e deixando 15 tripulantes feridos, segundo autoridades russas. O ataque levou a Rússia a reforçar a segurança também nesse local.
Menos de seis meses depois, em 3 de junho de 2025, o SBU colocou explosivos subaquáticos em pilares submersos da ponte da Crimeia e os detonou remotamente. Autoridades em Kiev disseram que seus agentes utilizaram mais de uma tonelada de explosivos e afetaram os fundamentos da ponte, mas o Kremlin negou que tenham ocorrido danos graves. De qualquer forma, o tráfego foi temporariamente interrompido.
Ataques a bases aéreas
As forças aéreas da Rússia desempenham um papel fundamental nos ataques com mísseis à Ucrânia desde o início da guerra. Assim, bases aéreas são um alvo prioritário do SBU e do HUR.
A primeira operação significativa foi a danificação, por drones FPV, de um avião-radar russo A-50 estacionado numa base em Belarus, em fevereiro de 2023. Os custos para consertá-lo foram elevados. Kiev inicialmente negou envolvimento, mas, em março de 2024, Malyuk itiu que os dois drones eram ucranianos.
Em agosto de 2023, o HUR atacou a base aérea de Soltsy, na região de Novgorod, no interior da Rússia. Ao menos um bombardeiro Tupolev Tu-22M3 foi danificado.
Porém, a operação mais espetacular ocorreu em 1º de junho de 2025: um total de 117 drones foram usados para atacar simultaneamente quatro bases aéreas em várias partes da Rússia. Eles foram transportados para perto das bases aéreas em caminhões comuns, cujos motoristas não sabiam nada sobre a carga.
De acordo com o SBU, 41 aeronaves russas foram destruídas na Operação Teia de Aranha, incluindo A-50, Tu-95, Tu-22M3 e Tu-160, correspondendo a 34% dos carregadores de mísseis de cruzeiro russos. Segundo a Otan, mais de 40 aeronaves foram danificadas, sendo de 10 a 13 delas completamente destruídas. Fontes russas relataram perdas menores.
Drones em vez de mísseis
Em julho de 2023, o SBU atacou a área comercial de Moscou, conhecida como City de Moscou. Dois drones, construídos a partir de aeronaves leves, atingiram prédios sem causar danos significativos. Porém, o ataque gerou pânico na capital russa. Segundo a agência de notícias Reuters, as defesas aéreas foram ineficazes contra drones de pequeno porte, o que levou ao reforço das medidas de segurança em Moscou.
Depois disso, os ataques com drones tornaram-se comuns, com alcance cada vez maior. Em abril de 2024, por exemplo, um drone do HUR voou 1.200 quilômetros até Nizhnekamsk, na República do Tartaristão, onde incendiou uma refinaria de petróleo e paralisou parcialmente a produção.
Em junho do mesmo ano, drones do SBU, após voarem aproximadamente 1.800 quilômetros, atacaram estações de radar do tipo Voronezh, na região de Oremburgo, que faziam parte do sistema de alerta antecipado para ataques de mísseis.
Altos oficiais militares russos na mira
O SBU e o HUR também fizeram tentativas de assassinato contra supostos colaboradores, oficiais russos ou engenheiros envolvidos em ataques com mísseis a alvos civis.
Em dezembro de 2024, o SBU matou o comandante das Forças de Defesa Radiológica, Química e Biológica da Rússia, tenente-general Igor Kirillov, e um de seus funcionários em Moscou. Kirillov foi acusado de crimes de guerra, incluindo ataques com armas químicas contra as forças de defesa ucranianas.
No início deste ano, agentes ucranianos mataram a tiros Mikhail Shatsky, vice-chefe do escritório de projetos responsável pela modernização de mísseis de cruzeiro e pelo desenvolvimento de novos drones, em Moscou. O serviço secreto militar ucraniano confirmou a operação, mas sem fornecer detalhes.
Autor: Igor Burdyga