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Augusto reconhece derrota antes de votação no Corinthians, mas diz: "Jogo não acabou"

26/05/2025 19h39

O presidente do Corinthians, Augusto Melo, fez um pronunciamento no Parque São Jorge nesta segunda-feira à noite reconheceu a derrota política antes mesmo da votação de impeachment no Conselho Deliberativo, que acontece logo mais.

O mandatário deixou claro que não está renunciando à presidência e que irá brigar pelo posto. Ele não quis permanecer na sede do clube para aguardar o fim da votação, entendendo que será afastado por ter a minoria no CD.

"Primeiramente, estou indignado. O jogo não acabou, mas saio de cabeça erguida. Saio do Corinthians neste momento, com salários em dia há sete meses, com planejamento de um ano que tinha tudo para dar certo", afirmou o dirigente.

"Não é renúncia, ao contrário. Não vou participar dessa palhaçada. Não estou renunciando, vou brigar para continuar aqui. Vai ter a votação, mas eles são a maioria, não tenho dúvida de que a votação vai ar. Tem 60 dias para a Assembleia Geral e vamos brigar pelo Corinthians. Tudo o que fiz foi pelo Corinthians. Saio de cabeça erguida. O seu dever, torcedor, é também cobrar. Cobrem as aberturas das contas. Por que vocês acham que queriam me tirar daqui correndo? O torcedor agora tem a chance de cobrar as aberturas das contas. Façam isso pelo bem do Corinthians. Obrigado, até breve", concluiu.

O encontro no Parque São Jorge retomará a votação iniciada no último dia 20 de janeiro. Na oportunidade, em uma reunião tumultuada que durou mais de quatro horas, 126 contra 114 conselheiros votaram a favor da issibilidade do processo de destituição.

Caso a maioria simples no Conselho aprove o impeachment de Augusto Melo, o presidente será afastado imediatamente do cargo, que será assumido de forma temporária por Osmar Stabile, primeiro vice-presidente do clube.

Além disso, se o Conselho der parecer positivo quanto ao impeachment de Augusto, Romeu Tuma Júnior, presidente do CD, terá de definir uma data para a Assembleia Geral, que é a última instância do processo de destituição, com a participação dos associados do clube.

Nesse cenário, Augusto permaneceria afastado de suas funções até a divulgação do resultado final da Assembleia Geral. Se os sócios endossarem que ele deve deixar o cargo, o mandatário será definitivamente destituído.

Se o impeachment não ar no Conselho Deliberativo, o caso será encerrado e Augusto Melo continuará normalmente no cargo de presidente.

ENTENDA OS MOTIVOS

No dia 12 de agosto de 2024, a Comissão de Justiça do Corinthians entregou um relatório para o Conselho Deliberativo a respeito de investigações sobre alguns temas que envolvem a gestão de Augusto, como as negociações com a VaideBet (ex-patrocinadora máster) e a Gazin (empresa de colchões que tem espaço no uniforme de treino).

Posteriormente, Augusto e pessoas que são ou foram ligadas à gestão foram ouvidas pela Comissão de Ética. Além do presidente, Armando Mendonça (segundo vice-presidente), Rozallah Santoro (ex-diretor financeiro), Yun Ki Lee (ex-diretor jurídico), Fernando Perino (ex-integrante do departamento jurídico), Marcelo Mariano (diretor istrativo) e Rubens Gomes (ex-diretor de futebol) foram investigados internamente.

Augusto entregou sua defesa à Comissão de Ética no final de setembro. No dia 26 de agosto, de forma paralela à investigação, um grupo de conselheiros enviou ao Conselho um requerimento que solicita a destituição de Melo.

O documento, de autoria do "Movimento Reconstrução SC", conteve mais de 50 s, número mínimo para que a solicitação fosse apreciada pelo presidente do CD.

O documento pede "tramitação sucinta" e se apega, principalmente, ao Artigo 106, "b" e "d", do Estatuto do clube, além da Lei 14.597/23, referente a nova Lei Geral do Esporte, que dispõe sobre crimes de "Lavagem" ou ocultação de bens.

Art. 106 - São motivos para requerer a destituição do Presidente e/ou dos Vices:

b) ter ele acarretado, por ação ou omissão, prejuízo considerável ao patrimônio ou à imagem do Corinthians.

d) ter ele infringido, por ação ou omissão, expressa norma estatutária.

Em 19 páginas, que detalham acontecimentos recentes promovidos pela atual gestão, o requerimento se apoia em fundamentos que objetivam apontar eventuais problemas e condutas temerárias da gestão após avaliação dos seguintes casos:

-"Laranja" na intermediação da VaideBet.

-Depoimento de Cassundé à Polícia, refutando ter feito intermediação.

-Debandada de dirigentes, perda do patrocínio e prejuízo moral.

-Depoimento de Armando Mendonça à Polícia, apontando omissão dos gestores.

-Agressão de Augusto a um torcedor do Cruzeiro, em MG, com prejuízo a imagem da instituição.

No requerimento, conselheiros colocam o Corinthians como "vítima de crimes cometidos pelos próprios dirigentes" e ainda reforçam a intenção de se obter para o clube o devido "ressarcimento do prejuízo em razão do pagamento errôneo à malfadada empresa que nunca intermediou a confecção do contrato com a antiga patrocinadora".

INDICIAMENTO AUMENTA PRESSÃO

A conclusão do inquérito do caso VaideBet aumentou a pressão sobre Augusto Melo. O presidente foi indiciado pela Polícia Civil de São Paulo por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. Além dele, também foram indiciados o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura, o ex-diretor istrativo Marcelo Mariano, além de Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, apontado no contrato entre clube e a casa de apostas como intermediador do acordo.

Cabe agora ao Ministério Público decidir se irá ou não apresentar a denúncia formal à Justiça. O promotor Juliano Atoji monitorou as investigações de perto e deve levar o caso adiante. Se a denúncia foi aceita por um juiz, Augusto Melo, Marcelo Mariano, Sérgio Moura e Alex Cassundé se tornarão réus em processo penal.

O contrato virou alvo de investigação policial após a descoberta de rees de receitas oriundas de pagamentos do Corinthians para a Rede Social Media Design LTDA, empresa de Cassundé. Posteriormente, parte destes valores foram transferidos para uma empresa 'laranja' e chegaram a uma conta vinculada ao crime organizado, conforme comprovou o relatório assinado pelo delegado Tiago Fernando Correia, do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), responsável pelo caso.

O documento ainda confirmou que Cassundé fez uma transferência de R$ 580 mil para a Neoway Soluções Integradas, a tal empresa fantasma, no dia 25 de março de 2024, mesma data em que, de acordo com dados telemáticos (ERB's) obtidos pela Polícia, Alex esteve presente no Parque São Jorge.

A intermediação deu à Rede Social Media Design LTDA o direito a receber 7% do valor total do acordo entre o clube e a VaideBet, o que, à época da vigência da parceria, renderia, ao fim do período de três anos, R$ 25,2 milhões para a empresa. A quantia deveria ser reada pelo clube em parcelas mensais de R$ 700 mil.

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