Empresário ganhou comissão de milhões e até post em contrato por Ancelotti
O empresário Diego Fernandes terá direito a uma comissão de 1,2 milhão de euros (R$ 7,6 milhões) por ter participado da negociação com o técnico Carlo Ancelotti.
O acordo a respeito da transferência do novo comandante da seleção brasileira foi firmado ainda quando Ednaldo Rodrigues estava na presidência da CBF.
O UOL apurou que o contrato ainda prevê que Diego seja compensado pelas agens de avião das viagens que fez até a Europa para participar da negociação.
O combinado com a gestão anterior da CBF ainda previa alguns meios de exposição do trabalho de Diego, como postagens compartilhadas com o perfil da CBF.
Foi por isso que a entidade publicou ontem uma foto nos stories do Instagram na qual marcou o perfil de Diego. A foto era do empresário ao lado de Ancelotti no dia da apresentação, com a seguinte legenda:
A CBF agradece pelo e e empenho dedicados nesse novo capítulo da maior seleção de futebol do mundo.
Diego ainda poderia ter tirado mais fotos com o presidente da CBF, se Ednaldo ainda estivesse no poder. Mas como houve turbulência política, o afastamento pela Justiça, Samir Xaud não fez qualquer menção e tampouco posou ao lado do empresário.
Diego, no entanto, chegou com Ancelotti no jatinho que trouxe o técnico e membros da nova comissão da seleção ao Rio. O transporte foi pago pela CBF.
Antes do envolvimento direto no negócio com Ancelotti, Diego Fernandes tinha perfil fechado no Instagram. Agora, tirou o cadeado da conta e já bateu mais de 26 mil seguidores. Também contratou assessoria de imprensa.
Dinheiro garantido
A gestão atual da entidade vai cumprir com o pagamento previsto no contrato feito por Ednaldo - embora haja quem coloque em dúvida a necessidade de recorrer a Diego em uma negociação que replicou as bases acordadas com Ancelotti em 2023.
Diego foi à Espanha conversar com o treinador que estava no Real Madrid. Ele tinha bom trânsito com a CBF na época de Ednaldo. Frequentava treinos da seleção e o gabinete da presidência.
Segundo Diego, as conversas mais intensas para participação dele na negociação começaram há cerca de 40 dias. Procurado pelo UOL, ele não comentou diretamente o valor da comissão.
Mas, na véspera, explicou como ou a ter o a Ednaldo, a ponto de ter sido escalado para intermediar a conversa com Ancelotti.
"Tenho muitos amigos no futebol, grandes jogadores que são clientes no banco onde eu presto serviço. Quando eu fui convidado, achei isso uma oportunidade como brasileiro, para ajudar a seleção a ter um melhor treinador e que pudesse contribuir para a história do futebol", disse o empresário, em entrevista após a apresentação do novo técnico da seleção.
Quem é ele?
Diego Fernandes é CEO da 08 Partners. São-paulino, tem experiência no mercado financeiro e faz operações para jogadores — como movimentações de câmbio de um país para o outro e investimentos.
Ele começou a aparecer de forma mais intensa no ambiente da seleção brasileira após a Copa do Mundo do Qatar. Diego frequentava treinos e hotéis. O empresário aproximou-se de jogadores da seleção brasileira oferecendo serviços financeiros.
Uma das famílias amigas no mundo da bola é a de Neymar — que ampliou os caminhos no cotidiano da CBF.
Desde 2018, ele tem fotos nas redes sociais com Jota Amâncio, um dos amigos mais próximos do camisa 10 do Santos. Diego assistiu à apresentação do jogador na Vila Belmiro ao lado de amigos e familiares.
Jota até replicou nas redes sociais a foto de Diego com Ancelotti, acrescentando a legenda: "Missão cumprida com meu sócio para o bem da nossa nação. O homem disse sim".
Por tudo isso, aos poucos, foi ganhando espaço com Ednaldo Rodrigues, de quem ganhou uma camisa personalizada da seleção em março de 2024, em Londres, por ocasião do amistoso com a Inglaterra.
O empresário, no entanto, nega que a proximidade com os Neymares (pai e filho) tenha sido combustível para fechar logo com Ancelotti. O italiano era o preferido de Ednaldo, mas concorria ao cargo na seleção com Jorge Jesus — personagem importante na saída de Neymar do Al-Hilal.
"Não teve essa conversa. Foi uma especulação da imprensa. Eu tenho uma relação com vários outros jogadores que eu conheço há bastante tempo. Neymar é mais um deles. Assim como tenho uma relação com o pai dele, conheço o pai de outros jogadores. Você acaba criando um vínculo especial com os familiares. A família de Neymar é igual a família de outros jogadores que estão na seleção", afirmou.
Em outro ambiente do qual gosta muito — o da Fórmula 1 —, era comum Diego aparecer com alguma camisa da seleção autografada. Leclerc, Sainz, Gasly e Doohan que o digam. O modelo vinha em uma caixa da CBF, daquelas já embaladas para presente.
O negócio vetado
Fernandes já teve uma empresa como sócio de Assis Moreira, irmão de Ronaldinho Gaúcho, o garoto-propaganda da marca. A "a FC" tinha como objetivo vender cotas de jogadores de futebol, como uma espécie de investimento.
A empresa foi suspensa pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 2015, por não ter licença para operar como agência de investimento coletivo.
"Era uma ideia inovadora. Tinha ideia de fazer a primeira bolsa de valores de jogadores de futebol no mundo. A ideia era poder ajudar os clubes e dar a torcedores a oportunidade de poder investir comprando cotas em cartão de crédito. Era para ajudar o futebol. A gente estava muito à frente do tempo, era uma ideia inovadora. Fiz muitos amigos na época. Ter o Assis e Ronaldinho nessa foi incrível", lembra ele.
'Desmascarado' em Madri
Diego Fernandes ficou conhecido do grande público quando foi a Madri como emissário da CBF para dialogar com Ancelotti.
A missão deveria ser sigilosa, mas a imprensa espanhola não demorou para identificar o empresário e ar a segui-lo. Foi flagrado em pelo menos dois jogos.
Foi a primeira participação dele como intermediador de uma negociação de treinador ou jogador.