Ex-diretor da PRF confirma blitze, mas nega direcionamento ao Nordeste
O ex-diretor de Operações da PRF Djairlon Moura confirmou em depoimento nesta manhã ao STF que houve ordem para realização de blitze para fiscalizar o transporte de eleitores na véspera do segundo turno das eleições de 2022, mas disse que a atuação foi realizada em todo o país, sem direcionamento de região.
O que aconteceu
Ex-diretor foi chamado para depor como testemunha do ex-ministro da Justiça Anderson Torres na ação penal sobre tentativa de golpe. Ele foi ouvido como investigado pelo fato de já ter sido indiciado pela PF (Polícia Federal) na investigação sobre as blitze para prejudicar o voto de eleitores do Nordeste. A PGR ainda não apresentou denúncia neste caso.
Ex-ministro pediu o "máximo possível" de mobilização dos efetivos, diz Moura. As fiscalizações da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e da PF no país todo em 2022 eram para combater crimes eleitorais, segundo ele.
Foi um pedido do então ministro Anderson Torres para que nós nos empenhássemos o máximo possível para realizar policiamento durante as eleições, evitar os crimes eleitorais, principalmente o transporte de valores.
Djairlon Moura, ex-diretor de operações da PRF, em audiência no STF nesta manhã
Ele também confirmou ter recebido ordem do Ministério da Justiça para fiscalizar o transporte de eleitores com destino ao Nordeste. Na versão dele, o pedido era para fiscalizar ônibus que estariam se deslocando do Centro-Oeste e do Sudeste com destino aos estados do Nordeste levando eleitores e dinheiro. O pedido teria sido feito na semana antes do segundo turno, e a operação teria durado sete dias, sendo encerrada em 27 de outubro, antes do pleito.
Segundo Moura, a operação não encontrou nenhum eleitor transportado irregularmente. Depois dessa operação, a PRF ainda fez outra no final de semana do segundo turno, mesmo com uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), proibindo ações que bloqueassem o transporte de ageiros durante a eleição.
Coordenei essa operação, resolvemos ampliar para todo o Brasil e isso, do meu ponto de vista, não tem nenhum direcionamento. É uma prática até comum de acontecer, apreensões de ônibus circulando no período eleitoral.
Djairlon Moura, sobre operação da PRF que mirou transporte de eleitores para o Nordeste
Operação realizada no fim de semana do segundo turno teria sido só para checar "documentos" de veículos, disse ex-diretor. Em seu relato nesta manhã, ele afirmou que as blitze realizadas no segundo turno não estavam checando o transporte irregular de ageiros, mas apenas se os ônibus estavam regulares e em boas condições. Segundo ele, não houve direcionamento, e a operação teria sido nacional.
Episódio das blitze foi juntado na denúncia contra acusados de tentativa de golpe de Estado. Para a PGR (Procuradoria-Geral da República), o episódio foi mais um ocorrido dentro do contexto da trama para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder. A PF inclusive chegou a indiciar Anderson Torres e o ex-diretor-geral da PRF Silvinei Vasques por atuarem para dificultar o trânsito de eleitores de Lula no segundo turno de 2022. Torres e Vasques são réus nesse processo, assim como Bolsonaro.
Mais testemunhas negaram reuniões sobre golpe
Na parte da tarde, foram ouvidas mais testemunhas de defesa de Anderson Torres. Ao todo, foram tomados depoimentos de seis pessoas, sendo quatro atuantes na gestão de Torres no Ministério da Justiça e na Polícia Federal, o ex-ministro da Educação Victor Veiga Godoy e a ex-subsecretária de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública do DF Cintia de Castro.
Audiências foram rápidas. As testemunhas negaram ter recebido alguma orientação política de Torres para o segundo turno das eleições de 2022. Elas depam sobre reunião ocorrida no Ministério da Justiça após o primeiro turno das eleições daquele ano com diferentes autoridades, incluindo policiais federais e policiais rodoviários federais. Todos negaram que o ministro tenha ado alguma orientação ou plano para atuarem de forma política na segurança do segundo turno.
Testemunhas detalham mais reuniões. Já o ex-ministro da Educação Victor Godoy depôs sobre a reunião ministerial ocorrida em junho de 2022 e cujo vídeo veio à tona na investigação sobre tentativa de golpe. Cíntia de Castro relatou a reunião realizada na véspera do 8 de janeiro na Secretaria de Segurança Pública do DF e explicou o planejamento que fizeram para preparar o policiamento para as manifestações de 8 de janeiro de 2023.