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Além de Marina: quatro idas de ministros ao Congresso que tiveram bate-boca

Marina Silva abandonou audiência da Comissão de Infraestrutura após falas misóginas  - Reprodução/Agência Senado
Marina Silva abandonou audiência da Comissão de Infraestrutura após falas misóginas Imagem: Reprodução/Agência Senado
do UOL

Colaboração para o UOL*

28/05/2025 12h38

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abandonou ontem uma sessão no Senado após uma série de embates tensos e ofensas machistas. Esta, no entanto, não é a primeira vez que ministros do governo Lula (PT) e parlamentares discutem no Congresso.

Relembre os bate-bocas

Moro x Wolney Queiroz

O ministro da Previdência Social colocou as fraudes no INSS na conta do governo de Jair Bolsonaro (PL). "Um servidor denunciou em 2020 à Polícia Federal que havia descontos indevidos, fraude. Parece que vossa excelência era ministro da Justiça nessa época. Vossa excelência fez alguma coisa para coibir essas fraudes?" A presença dele na Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor foi registrada em 15 de maio.

Moro refutou o que chamou de "sugestão" do ministro de que teria se "omitido". "Esse depoimento foi no mês de setembro de 2020, sequer eu estava no governo mais. Se eu tivesse recebido, como você recebeu, em junho de 2023, a notícia de que havia essas fraudes eu teria tomado providências imediatas. Refuto a omissão que vossa excelência quis me acusar. Quem se omitiu como secretário da Previdência foi vossa excelência", disse Moro.

Haddad x deputados bolsonaristas

O ministro da Fazenda bateu boca com deputados da oposição em vários momentos de audiência pública em maio de 2024. Na Comissão de Finanças da Câmara, o deputado Filipe Barros (PL-PR) o acusou de aumentar impostos para cobrir rombos do governo. Haddad respondeu que "esse déficit não é nosso, o filho é teu. Faz o exame de DNA". A frase se referia ao adiamento do pagamento de precatórios na gestão Bolsonaro, que impactou as contas da União.

"A Terra é redonda o tempo todo", disse Haddad a Abilio Brunini (PL-MT) após ser chamado de "negacionista da economia". "Não faz o menor sentido o senhor estar fazendo esse discurso manso e ponderado enquanto o Brasil não está se desenvolvendo bem na economia", disse o então deputado.

O senhor me chama de negacionista? Defendi a vacina o tempo todo, a Terra é redonda o tempo todo. Vocês negam que a Terra é redonda, vocês negam que a vacina previne, negam essas coisas. Negam que deram um calote em precatório, negam que deram calote em governador e eu que sou negacionista?
Fernando Haddad

Haddad também disse a Brunini que tinha dificuldade em entender o raciocínio dele. "Eu olho para o senhor de um ponto de vista antropológico, tentando entender o seu pensamento, o seu raciocínio, com grande dificuldade."

O ministro e Kim Kataguiri (União-SP) também se desentenderam. "Feche a porta para ouvir e pare de lacrar na rede", disse o Haddad ao deputado. Ele explicou que o ICMS cobrado de compras do exterior vai para os governos estaduais, não o federal. "O senhor vai criticar publicamente os governadores que o senhor apoia? Não fará isso. Pega o microfone e fala mal do Tarcísio [de Freitas, governador paulista]. Coragem", afirmou Haddad. "As pessoas merecem ser ouvidas, receba-as em seu gabinete, ouça os argumentos, feche a porta para ouvir e pare de lacrar na rede".

Dino x deputados e senadores da oposição

Em audiências na Câmara e no Senado, Flávio Dino, então ministro da Justiça, também bateu boca com parlamentares. Em 2023, ironizou o senador Marcos do Val (Podemos-ES) ao responder a questionamento dele, que o acusou de omissão durante os atos golpistas em 8 de janeiro. "Espero que o ministro seja afastado e, se possível até preso, como o ministro André Mendonça... quer dizer, do Anderson Torres, que nem no Brasil estava", disse Do Val, confundindo o ministro do STF com o ex-ministro da Justiça.

Se o senhor é da Swat, eu sou dos Vingadores. O senhor conhece? Capitão América, Homem-Aranha?" Dino, no Senado, em 2023

Na mesma ocasião, Dino também respondeu a Moro, ex-juiz da Lava Jato, com uma provocação. "Se o senhor me faz perguntas esquisitas, eu tenho de lembrar ao senhor a lei. Foi-se o tempo em que se rasgava a lei, se jogava a lei fora no Brasil", disse. Eu fui juiz, nunca fiz conluio com o Ministério Público. Nunca tive sentença anulada. Por ter sido um juiz honesto, por ter sido um governador honesto, é que eu não ito que ninguém venha dizer que eu tenho que ser preso."

A ida dele à CCJ da Câmara também rendeu falas inusitadas no mesmo ano. O deputado André Fernandes (PL-CE) afirmou que Dino respondia a 277 processos judiciais, citando o site JusBrasil como fonte. O então ministro ironizou: "A essas alturas, dizer com base no Jusbrasil que respondo a 277 processos, se insere no mesmo continente mental de quem acha que a terra é plana, mais ou menos."

O que aconteceu com Marina

A ministra do Meio Ambiente deixou sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado após ser alvo de falas consideradas misóginas. Os embates tensos ocorreram inclusive com senadores da base do governo.

Marina levantou e foi embora após senador ofendê-la. Plínio Valério (PSDB-AM), que já é alvo de representação no Conselho de Ética por dizer que gostaria de enforcar a ministra, disse que não ela não merecia respeito. "Olhando para a senhora, estou falando com a ministra, e não com uma mulher", começou. "Eu sou as duas coisas", respondeu Marina. "A mulher merece respeito, a ministra, não", rebateu ele.

"Ou ele me pede desculpa, ou eu vou me retirar", condicionou Marina. Plínio Valério quis continuar a discussão, então ela recolheu seus papéis e foi embora. A sessão foi encerrada logo em seguida.

Embate com Valério aconteceu logo após o presidente da comissão, o senador Marcos Rogério (PL-RO), falar para a ministra "se pôr no seu lugar". Rogério silenciou o microfone de Marina várias vezes durante a sessão, mas ela continuou falando.

Você gostaria que eu fosse uma mulher submissa, e eu não sou. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente

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