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Moraes repreende testemunha que diz só ter ouvido palavra 'golpe' na mídia

do UOL

Colunista do UOL, em Brasília

28/05/2025 10h36Atualizada em 28/05/2025 17h31

Durante a audiência de testemunhas dos acusados por tentativa de golpe de Estado, na manhã de hoje, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), rebateu os depoentes.

O que aconteceu

Aliados de Anderson Torres tentaram blindar o réu. O ex-ministro da Justiça da gestão Jair Bolsonaro chamou como testemunhas pessoas de sua confiança, que trabalharam com ele e que disseram que nunca houve discussão sobre golpe.

Número 2 do ministério afirmou que Torres separava ações do ministério de suas preferências pessoais. Ex-secretário-executivo do Ministério da Justiça, o brigadeiro Antonio Ramiro Lorenzo disse que "jamais se pensou em outra hipótese que não fosse transição [de governo]" nas reuniões das quais participou.

Lorenzo então emitiu sua opinião e afirmou que não sabe de nenhuma discussão sobre tentativa de golpe. "Nunca, jamais houve a palavra golpe. Só ouço [essa palavra] na mídia", falou. Moraes então interrompeu Lorenzo e pediu para ele "se manter respondendo os fatos".

Moraes também questionou Lorenzo sobre o período de transição de governo. Lorenzo disse que a transição foi "técnica".

O ministro afirmou que, em 12 de dezembro de 2022, data da diplomação de Lula, um grupo vandalizou Brasília e atacou a sede da Polícia Federal. Ele destacou publicações de Lorenzo em redes sociais atacando o governo eleito por causa da ação de vandalismo e questionou se aquilo seria uma transição "técnica".

Na ocasião, Lorenzo publicou —e depois apagou — uma crítica ao fato de Flávio Dino, nomeado para a pasta da Justiça, ter convocado uma coletiva de imprensa para tratar do tema. Lorenzo disse que emitiu opinião pessoal que, no calor da emoção, foi carregada nas tintas. Segundo ele, a pauta deveria ter sido atribuída à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.

Moraes então questionou se um ataque à PF não ficaria sob a alçada da pasta. A Polícia Federal está sob o guarda-chuva do Ministério da Justiça. Lorenzo concordou, mas disse que pensou, principalmente, nos atos de vandalismo na rua, como os ônibus que foram queimados.

Moraes também perguntou se havia uma indisposição do ministério em relação à eleição do novo governo. Lorenzo negou.

Testemunha disse que a equipe de Torres estava preocupada com a imagem do ministro no fim da gestão Bolsonaro. Segundo ele, já haviam saído os relatórios mostrando que as urnas eletrônicas não eram fraudadas.

A equipe do então ministro decidiu que era importante evitar a transmissão de lives de dentro do ministério questionando urnas eletrônicas. E também diminuir a exposição de Torres nas transmissões semanais que Bolsonaro fazia. O terceiro ponto era reforçar dados técnicos sobre as urnas eletrônicas.

Moraes questionou o motivo para Lorenzo ter comparado o então presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, "a um adolescente metido a influencer". "Novamente, foi a emoção nas redes sociais", disse Lorenzo. "As redes sociais não são arena para isso", acrescentou.

Lorenzo disse também que Torres quase se livrou de uma live em que Bolsonaro atacou as urnas eletrônicas. Segundo ele, uma assistente rastejou por baixo da mesa, cutucou Bolsonaro e informou que Torres estava do lado de fora com informações.

O coronel da Polícia Militar do Distrito Federal Rosivan Correia de Souza também prestou depoimento. Em suas colocações, ele disse que a PM não é subordinada à Secretaria de Segurança Pública do DF.

"O secretário de Segurança Pública é rainha da Inglaterra?", ironizou Moraes. "Dizer que não exerce hierarquia sobre as polícias é dizer que presidente [da República] não é comandante em chefe das Forças Armadas", acrescentou o ministro antes de dispensar a testemunha.

A defesa de Torres tem tentado mostrar por meio das testemunhas que não houve direcionamento político nas suas ações. Nos depoimentos de ontem, as testemunhas isentaram Torres na ação das blitze no Nordeste no segundo turno da eleição de 2022.

A acusação tem buscado mostrar o papel do então ministro nas reuniões em que foram discutidas estratégias de atuação da PF e da PRF para as eleições daquele ano. O bloqueio das vias em regiões pró-Lula e a narrativa de fraude nas urnas por integrantes do então governo fazem parte do que a PGR (Procuradoria-Geral da República) aponta como contexto do plano de golpe encabeçado por Bolsonaro e aliados de confiança —o núcleo crucial do golpe.

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