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Lúcifer: quem é o ex-PCC que mata rivais na cadeia e pinta celas com sangue

do UOL

Do UOL, em São Paulo

29/05/2025 05h30

Há 30 anos, Marcos Paulo da Silva, 48, conhecido como "Lúcifer", foi preso pela primeira vez por furto e roubo. De lá para cá, ele afirma ter matado quase 50 rivais em prisões de São Paulo e ou a ser temido como "o nome da morte" no sistema prisional paulista.

Quem é 'Lúcifer'?

Preso em 1995 sem nenhuma acusação de homicídio, 'Lúcifer' afirmou que matou 48 inimigos dentro de presídios estaduais paulistas. Diagnosticado com psicose, ele confessou os crimes à Justiça. Boa parte dos assassinatos foi confirmada pelas autoridades.

Criminoso é fundador da facção Irmandade de Resgate do Bonde Cerol Fininho. Trata-se de uma das nove organizações criminosas violentas criadas no coração do sistema carcerário de São Paulo.

Integrantes do "Cerol Fininho" têm como missão matar rivais de forma cruel. O grupo, criado em 2013, tem como modus operandi a decapitação e a extirpação das vísceras de suas vítimas.

Após as execuções, eles escrevem o nome da facção nas paredes com o sangue dos mortos. As regras são mencionadas no estatuto do grupo criminoso, escrito pelo próprio Silva em uma cela. Segundo ele, o lema da organização é "lealdade, justiça, guerra e morte". O objetivo: "esmagar com mãos fortes os tiranos que usam de suas forças para oprimir os mais fracos, sobretudo PCC, TCC, ADA e SS".

Preso é condenado a 217 anos de prisão. Segundo a SAP (Secretaria Estadual da istração Penitenciária), a longa condenação é resultado de crimes praticados na prisão, como assassinatos e danos ao patrimônio.

'Lúcifer' é conhecido no sistema penitenciário paulista por ter uma tatuagem com seu apelido no crime. Ele já participou de assassinatos no cárcere em parceria com membros do PCC, de acordo com investigações da Polícia Civil de São Paulo (leia mais sobre os casos abaixo).

"Quando ele chega a um presídio, é questão de tempo para matar, decepar, praticar novamente atos de barbárie contra presos, visitantes e servidores", disse um agente penitenciário ao UOL em 2020. "Ele não pode ficar aqui ao Deus dará. Necessita de tratamento urgente", desabafou, à época, o funcionário da Penitenciária de Presidente Venceslau (SP) sobre Silva. O UOL tenta confirmar com a SAP se o líder criminoso continua no mesmo presídio. Em caso de manifestação, este texto será atualizado.

Mortes restritas a rivais de facções

Psicólogos escreveram em laudos médicos que Silva nunca cometeu assassinato nas ruas. Segundo os profissionais, todos os homicídios praticados por "Lúcifer" ocorreram dentro do sistema prisional.

SAP pediu a transferência de Silva para presídio federal após fundação do "Cerol Fininho". Até 2017, ele ou pelas penitenciárias de Porto Velho (RO), Campo Grande (MS) e Catanduvas (PR), mas voltou a cumprir pena em um presídio do interior de São Paulo em 2018.

Ele é uma pessoa instável e foi vítima de agressões quando entrou, ainda muito jovem, no sistema penitenciário. A qualquer momento, pode cometer um ato violento. Por isso, tomava o banho de sol afastado dos outros detentos. Agente penitenciário de presídio federal, em entrevista anônima ao UOL em 2018

Ao completar um ano na prisão, aos 19, Silva ingressou no PCC. Ele alega que deixou a facção paulista em meados de 2008 por considerar que a organização "ou a visar apenas o capitalismo, o lucro e abandonou a luta em prol da população carcerária". Diante disso, o criminoso se tornou um dos principais rivais de Marcola, apontado como líder do PCC.

Fui usado pelo PCC para exterminar presos. Mas não me arrependo de matar aquelas pessoas, porque a luta era justa. Havia muitos estupradores e ladrões que roubavam presos dentro da cadeia. Marcos Paulo da Silva, o "Lúcifer", em declarações à Justiça

Tatuagem em homenagem ao anjo caído e cronologia de crimes

Prisioneiro ganhou apelido após tatuar no corpo a inscrição "Lucifer meu protetor". Tatuou ainda outras imagens como tridentes, demônios, caveiras e a suástica, símbolo nazista.

Em 2011, Silva matou cinco presos em um mesmo dia na Penitenciária de Serra Azul (SP). Enquanto matava os rivais, ele comemorava e dizia: "Como eu gosto disso. Tem muito pouco. Quero matar mais presos", conforme apuração do UOL.

Em 2015, ele mandou ass outros dois rivais na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau. Por esses dois crimes, acabou condenado a 66 anos. Depois dessas mortes, foi internado pela sexta vez em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), no qual presos ficam em isolamento.

Anos depois, bilhetes interceptados em um presídio do interior paulista revelaram que o PCC tentou usar Silva para matar um rival em Campo Grande. O alvo da facção paulista era o traficante José Roberto Fernandes Barbosa, mais conhecido como Zé Roberto da Compensa. Ele é um dos líderes da FDN (Família do Norte) e mandante do "Massacre de Manaus", ocorrido em 1º de janeiro de 2017, quando 56 presos — entre eles 20 integrantes do PCC — foram assassinados na penitenciária da capital amazonense.

Silva já se mutilou diversas vezes, cortando braços, pernas e barriga. Quando estava na penitenciária federal de Catanduvas, ele foi algemado à maca antes de receber tratamento médico. A imagem repercutiu na imprensa nacional.

Agentes penitenciários disseram ao UOL que os presídios federais não quiseram custodiá-lo. Psicólogos de Catanduvas atestaram que ele tem transtorno de personalidade, psicose, e precisaria de tratamento de uma equipe multiprofissional especializada - estrutura que não estaria disponível nas unidades federais.

UOL já questionou SAP sobre facções e providências tomadas em relação aos assassinatos cometidos por Silva. A coluna de Josmar Jozino questionou, em 2020, quantas facções criminosas foram criadas no sistema prisional paulista; quantos são os adeptos do "Cerol Fininho" e quais providências foram tomadas para evitar mortes nas prisões comandadas por Silva. A pasta diz que não fornece dados de inteligência.

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