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Brasileiro vai mais ao mercado, mas sai com carrinho menor, mostra estudo

Carrinho de compras vazio em supermercado - Divulgação JC Concursos
Carrinho de compras vazio em supermercado Imagem: Divulgação JC Concursos
do UOL

Clara Assunção

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

30/05/2025 05h30

Para driblar a alta dos preços dos alimentos e bebidas, o brasileiro tem ajustado seus hábitos de compra: vai mais vezes ao mercado, leva carrinhos menores, escolhe embalagens menos volumosas e busca promoções.

Esses comportamentos foram observados ao longo dos três primeiros meses deste ano, período em que os preços de alimentação e bebidas pressionavam mais a inflação, apesar da recente desaceleração registrada em abril — quando a alta caiu para 0,82%, abaixo dos 1,17% de março. Por ser o grupo de maior peso no IPCA, o impacto desses preços, no entanto, segue relevante, segundo o IBGE. É nesse cenário que a pesquisa Consumer Insights da Kantar analisa o comportamento do consumidor.

O que mostra o estudo

O primeiro trimestre de 2025 mostrou um consumidor mais cauteloso. Na comparação com igual período do ano ado, o brasileiro potencializou a tendência de mais viagens e carrinhos menores frente ao aumento de preço. As idas aos pontos de venda tiveram um incremento de 11,1%, assim como em unidades compradas, aumento de 3,1%, mas com um volume quase inalterado, de 0,1%.

O dado aponta que o brasileiro está indo mais vezes ao mercado, mas com carrinhos menores, uma tentativa de driblar o impacto da inflação no bolso. "Esse volume quase inalterado, mesmo com aumento de unidades por compra, é uma indicação de escolha por embalagens menores para trazer equilíbrio em termos de gasto para manter esse consumo", afirma a gerente de contas sênior da World Division da Kantar, Vanessa Mateus.

Os perecíveis se destacam como destino de maior gasto. A pesquisa identificou um aumento de unidades por viagem, preço médio, frequência e gasto por viagem em produtos como queijos, margarina, empanados (como nuggets) e iogurte. Houve aumento também na busca por unidades de mercearia salgada (5,1%), que inclui macarrão e salgadinhos.

As classes C, D e E foram as que mais puxaram o crescimento do consumo no trimestre, apoiadas pelo aumento na frequência de compras. O aumento no gasto médio foi de 10,2% no caso da classe C, cuja frequência de idas ao mercado subiu 12,5%. Já a classe D e E registraram um gasto médio de 8,4% mais alto e uma frequência de 17,2%.

Já as classes A e B tiveram crescimento de 5% no gasto médio e na frequência. O estudo ressalta, porém, que o crescimento da C, D e D vem de uma forte baixa no consumo no primeiro trimestre de 2024.

Pessoas continuam comprando café e óleo, apesar da alta no preço

Mesmo com a alta no preço de alimentos básicos, como café torrado e óleo de soja, essas categorias mantêm seus níveis de consumo. A explicação está na busca por marcas mainstream, promoções e redução nas ocasiões de uso, explica a gerente de contas.

O preço médio do café, por exemplo, teve um incremento de 21,9%, mas o consumo de unidades aumentou em 5,1%. Nesse caso, houve um aumento de 2,8 pontos percentuais dos consumidores que priorizam produtos populares e íveis e de 0,7 p.p daqueles que aumentaram a busca por promoções.

Estudo destaca o crescimento de marcas próprias, especialmente em categorias de commodities como leite UHT. O aumento na compra de unidades foi de 14,5%, o que reforça o movimento de busca por custo-benefício.

"O brasileiro continua consumindo, mas de forma mais estratégica, controlando o volume e o desembolso", resume Vanessa Mateus. O desafio, segundo ela, é para as marcas: entender quais categorias e ocasiões de uso podem alavancar seu consumo, mantendo-se relevantes em um carrinho cada vez mais seletivo.

Outro patamar importante nessa dinâmica de busca de reequilíbrio do brasileiro, são os tamanhos menores que vimos que têm sido priorizados, principalmente alimentos e bebidas. O que também contribui para essa fragmentação das compras e possibilita experimentar mais produtos e ter um desembolso menor. A escolha de tier de preços também é um pilar importante nesse contexto. O consumidor continua fazendo escolhas e há espaço para marcas , visto a menor variação de preço.

Avanço do pequeno e do varejo tradicional

Pequeno varejo consegue crescer entre as classes C, D e E ao absorver as compras de abastecimento, ou seja, para o mês. Embora o atacarejo ainda permaneça como o principal local para a chamada compra de abastecimento, apontada por quase 70%, as classes C, D e E também aram a usar o comércio para compras do tipo, um incremento de 15% na comparação anual.

O varejo tradicional também cresceu entre aqueles que o usam para fazer a "compra do mês". O local foi o segundo maior bem posicionado na missão, atrás apenas do atacarejo, com 54,1%, neste primeiro trimestre. Tanto ele como o pequeno varejo aparecem ainda com maior equilíbrio entre os tipos de missões de compras, que pode variar de abastecimento, a urgência, reposição e proximidade.

E-commerce também cresce, diz a pesquisa Kantar. Ao analisar o comportamento dos consumidores brasileiros, a empresa de pesquisa também identificou que a penetração do e-commerce chegou a 33,4%, o maior nível da série histórica da pesquisa realizada desde 2009. Até então, o canal tinha pouca relevância, mas vem ganhando relevância desde a pandemia de Covid-19, em 2020. A modalidade também aparece crescendo em várias cestas e não apenas a de alimentos e bebidas, como era de costume.

Metodologia do estudo. A pesquisa Consumer Insights, realizada pela Kantar, consultou 11.300 lares, o que representa 61 milhões de residentes no país. As entrevistas ocorreram entre janeiro e março deste ano.

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