Jovem morre uma semana após levar chute no rosto em jogo de futebol no CE

Um atleta de um time de futebol amador morreu ontem, em Quixeramobim (CE), uma semana após levar um chute no rosto durante uma partida. A família dele acusa a rede pública de saúde de negligência médica, mas o hospital nega.
O que aconteceu
Rair, de 28 anos, teve morte cerebral na quinta-feira e foi mantido até ontem com aparelhos. O paciente havia sido diagnosticado com traumatismo cranioencefálico e aguardava uma cirurgia, mas perdeu completamente as funções cerebrais durante o período de espera.
Ele havia sido ferido em uma partida de futebol no dia 25 de maio. Nos cinco primeiros minutos de um jogo em Parambu, um jogador do time adversário chutou acidentalmente o rosto de Rair enquanto a vítima tentava cabecear a bola.
Rair foi socorrido ao Hospital Municipal de Parambu e transferido da unidade devido à gravidade. Depois de realizar a tomografia que identificou o traumatismo, ele foi levado para a capital, mas a capital não tinha vaga para ele. Por isso, foi encaminhado ao Hospital Regional do Sertão Central, de Quixeramobim, - em um trajeto de quase 3h entre as duas cidades.
Família cita negligência médica
Em Quixeramobim, o atleta ficou internado durante duas horas, mas recebeu alta em seguida. Ao UOL, a esposa dele, Eva Massena Gomes, contou que os médicos alegaram que Rair era ''jovem'' e poderia aguardar em casa para ar por cirurgia no dia 4 de junho. ''O hospital não disponibilizou nenhuma ambulância e nos deslocamos de Parambu até o hospital de Quixeramobim para buscá-lo'', contou.
Durante o trajeto, em Tauá, o jovem começou a ar mal, sentindo febre e vômito. Ele foi levado para um hospital do município, onde teve convulsões, vomitou sangue e sentiu dores intensas de cabeça. Segundo Eva, o médico explicou que as dores eram apenas devido ao ''nariz quebrado e fraturas no rosto''.
Com a piora do quadro, o jovem voltou para o hospital de Quixeramobim. ''O SAMU levou ele, mas ele ou muito mal no caminho, teve uma parada cardiorrespiratória, ficou inconsciente e ao chegar no hospital foi entubado. Duas horas depois, teve uma parada cardíaca e ficou internado. Daí, foi surgindo infecção pulmonar e, no dia 29 de maio, o neurologista o diagnosticou com morte cerebral'', relatou a companheira.
Familiares decidiram desligar os aparelhos que o mantinham ontem depois da morte cerebral. Eva conta que os médicos teriam insistido pelo desligamento e incentivado a doação de órgãos do jovem. ''Ontem, entramos em acordo e os aparelhos foram desligados. Estamos sofrendo pela perda do meu esposo, e revoltados com toda a negligência médica que levou o meu marido a essa situação'', afirmou a mulher.
O que diz o hospital
O Hospital Regional do Sertão Central, de Quixeramobim, afirmou que o paciente não apresentou ''queixas clínicas graves''. Em nota, a direção da unidade falou que ele estava consciente e orientado, apenas com um ''desvio de septo nasal''. ''Foi prontamente agendado um procedimento para o dia 4 de junho deste ano, em seguida ele recebeu alta no fim da tarde do mesmo dia'', alegou.
Confirmou ainda que o paciente foi atendido novamente no dia 27 de maio. O hospital disse que Rair ''recebeu todos os cuidados de urgência'', mas que não poderia comentar sobre quadros clínicos de seus pacientes ''em respeito à sigilosidade das informações confidenciais''.