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Montadoras e fabricantes de autopeças acionam modo "pânico total" por restrições a terras raras

09/06/2025 09h54

Christina Amann Nick Carey Kalea Hall

BERLIM/LONDRES/DETROIT (Reuters) - Frank Eckard, presidente-executivo de um fabricante alemão de ímãs, tem recebido uma enxurrada de ligações nas últimas semanas. Montadoras de veículos e empresas de autopeças têm se mostrado desesperados para encontrar fontes alternativas de ímãs, que estão em falta devido às restrições de exportação chinesas.

Alguns disseram a Eckard que suas fábricas podem ficar paradas até meados de julho sem o fornecimento de ímãs. "Todo o setor automotivo está em pânico total", disse Eckard, presidente-executivo da Magnosphere, com sede em Troisdorf, Alemanha. "Eles estão dispostos a pagar qualquer preço."

Os executivos do setor automotivo foram mais uma vez levados às salas de guerra, preocupados com o fato de que os rígidos controles de exportação da China sobre ímãs de terras raras - essenciais para a fabricação de veículos - possam prejudicar a produção. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na sexta-feira que o presidente chinês, Xi Jinping, concordou em permitir o fluxo de minerais e ímãs de terras raras para os EUA. Uma equipe comercial dos EUA está programada para se reunir com seus homólogos chineses para conversações em Londres na segunda-feira.

O setor teme que a situação das terras raras possa se transformar no terceiro grande choque na cadeia de suprimentos em cinco anos. A escassez de chips causou redução de produção de milhões de carros entre 2021 e 2023 e, antes disso, a pandemia, em 2020, fechou fábricas por semanas.

Essas crises levaram o setor a fortalecer as estratégias da cadeia de suprimentos. Os executivos priorizaram suprimentos de reserva para os principais componentes e reexaminaram o uso de estoques "just-in-time", que economizam dinheiro, mas podem deixá-los sem inventários quando uma crise se desenrola. No entanto, a julgar pelas ligações recebidas de Eckard, "ninguém aprendeu com o ado", disse ele.

Desta vez, à medida que o gargalo das terras raras se torna mais apertado, o setor tem poucas boas opções, considerando a extensão do domínio da China sobre o mercado. O destino das linhas de montagem das montadoras foi deixado para uma pequena equipe de burocratas chineses, que analisa centenas de solicitações de licenças de exportação.

Várias fábricas européias de fornecedores de automóveis já fecharam as portas, e mais paralisações estão por vir, disse a associação de fornecedores de automóveis da região, a CLEPA. "Mais cedo ou mais tarde, todos serão confrontados", disse o secretário-geral da CLEPA, Benjamin Krieger.

Atualmente, os carros terras raras em dezenas de pequenos motores elétricos que equipam componentes como espelhos laterais, alto-falantes, bombas de óleo, limpadores de para-brisa e sensores de vazamento de combustível e de frenagem.

A China controla até 70% da mineração global de terras raras, 85% da capacidade de refino e cerca de 90% da produção de ligas metálicas e ímãs de terras raras, segundo a consultoria AlixPartners. O veículo elétrico médio usa cerca de meio quilo de elementos de terras raras, e um carro movido a combustível fóssil usa apenas metade disso, de acordo com a Agência Internacional de Energia.

A China já tomou medidas restritivas anteriormente, inclusive em uma disputa com o Japão em 2010, durante a qual restringiu as exportações de terras raras. O Japão teve que encontrar fornecedores alternativos e, em 2018, a China foi responsável por apenas 58% de suas importações de terras raras.

A China tem uma carta de terras raras para jogar sempre que quer", disse Mark Smith, presidente-executivo da empresa de mineração NioCorp, que está desenvolvendo um projeto de terras raras no Estado norte-americano de Nebraska com início de produção previsto daqui três anos. Em todo o setor, os fabricantes de automóveis têm tentado se livrar do uso de ímãs de terras raras da China ou até mesmo desenvolver ímãs que não precisem desses elementos. Mas a maioria dos esforços está a anos de distância da escala necessária.

"Trata-se realmente de identificar... e encontrar soluções alternativas" fora da China, disse Joseph Palmieri, chefe de gerenciamento da cadeia de suprimentos do fornecedor Aptiv, em uma conferência na cidade norte-americana de Detroit na semana ada.

As montadoras, incluindo General Motors e BMW, e os principais fornecedores, como ZF e BorgWarner, estão trabalhando em motores com conteúdo de terras raras zero ou reduzido, mas poucos conseguiram escalar a produção o suficiente para cortar custos.

A UE lançou iniciativas, incluindo a Lei de Matérias-Primas Críticas, para impulsionar as fontes europeias de terras raras. Mas o bloco de países não agiu com rapidez suficiente, disse Noah Barkin, consultor sênior do Rhodium Group, um grupo de estudo norte-americano voltado para a China.

Mesmo as empresas que desenvolveram produtos comercializáveis têm dificuldades para competir com os produtores chineses em termos de preço.

David Bender, codiretor do negócio de reciclagem de ímãs da especialista em metais alemã Heraeus, disse que está operando com apenas 1% da capacidade e terá que fechar no próximo ano se as vendas não aumentarem.

A Niron, sediada na cidade norte-americana de Minneapolis, desenvolveu ímãs livres de terras raras e levantou mais de US$250 milhões de investidores, incluindo GM, Stellantis e a fornecedora de autopeças Magna.

"Observamos uma mudança radical no interesse de investidores e clientes" desde que os controles de exportação da China entraram em vigor, disse o presidente-executivo da Niron, Jonathan Rowntree. A empresa está planejando uma fábrica de US$1 bilhão com início de produção previsto para 2029.

A Warwick Acoustics, sediada na Inglaterra, desenvolveu alto-falantes sem terras raras que devem aparecer em um carro de luxo ainda este ano. O presidente-executivo, Mike Grant, disse que a empresa está em negociações com mais uma dúzia de montadoras, embora os alto-falantes não devam estar disponíveis em modelos convencionais por cerca de cinco anos.

À medida que as empresas automotivas buscam soluções de longo prazo, elas se esforçam para evitar o fechamento iminente das fábricas.

As montadoras precisam descobrir quais de seus fornecedores precisam de licenças de exportação. A Mercedes-Benz, por exemplo, está conversando com fornecedores sobre a criação de estoques de terras raras.

Os analistas afirmam que as restrições podem forçar as montadoras a fabricarem carros sem determinadas peças e mantê-los em pátios até que as autopeças estejam disponíveis, como a GM e outras empresas fizeram durante a crise dos semicondutores.

A dependência das montadoras em relação à China não termina com os elementos de terras raras. Um relatório da Comissão Europeia de 2024 afirmou que a China controla mais de 50% do fornecimento global de 19 matérias-primas importantes, incluindo manganês, grafite e alumínio.

Andy Leyland, cofundador da SC Insights, especialista em cadeia de suprimentos, disse que qualquer um desses elementos poderia ser usado como alavanca pela China. "Isso é apenas um tiro de advertência", disse ele.

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