Aliados veem Bolsonaro condenado, e PL já fala em apoio a quem ele escolher

Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) veem como certo o cenário de condenação em julgamento do STF sobre tentativa de golpe de Estado e já falam em trabalhar por nome escolhido por ele para as eleições de 2026.
O que aconteceu
Integrantes do PL consideram prioridade apoiar nome escolhido por Bolsonaro. Membros da sigla trabalham com a possibilidade de o ex-presidente ser condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), mas acreditam em um abrandamento de pena. Nesse caso, integrantes da legenda afirmam que já começariam a se mobilizar pelo pré-candidato de Bolsonaro.
Embora não haja definição sobre o nome escolhido pelo ex-presidente, a chapa Tarcísio-Michelle ganha força. Ao UOL, fontes do PL disseram que a ala que apoia a dobradinha é "mesclada" —formada por políticos mais e menos ideológicos. A chapa formada pelo governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Michelle Bolsonaro (PL) representaria para o eleitor um lado técnico e "forte nos costumes", avaliam aliados.
Pena menos dura a Bolsonaro viria de uma suposta pressão por parte dos EUA sobre Moraes. Isso porque bolsonaristas apostam que o ministro do STF possa ser atingido pelas medidas restritivas contra autoridades estrangeiras, anunciadas pelo secretário de Estado americano, Marco Rubio, com base na Lei Global Magnitsky. A legislação é aplicada contra acusados de corrupção ou violação dos direitos humanos.
Apoiadores do ex-presidente veem Luiz Fux mais "sensibilizado". Membros do PL afirmam que os últimos posicionamentos do ministro do STF em relação à necessidade de revisão da pena de presos por envolvimento no 8 de Janeiro e, mais recentemente, no interrogatório de Bolsonaro como "surpresa positiva".
Após interrogatórios, Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) elogiou postura de Fux. O deputado federal licenciado compartilhou dois questionamentos do ministro ao tenente-coronel Mauro Cid sobre a falta de de Bolsonaro na minuta do golpe. "O senhor tinha a função de pressionar o presidente para a minuta do estado de defesa, do estado de sítio, etc. Esse documento foi assinado?", questionou Fux. Em resposta, Cid nega e diz que "em nenhum momento foi assinado".
Estratégias pós-julgamento
PL fala em capitalizar imagem de "preso político" de Bolsonaro. Segundo um membro do partido, a sigla pretende mobilizar apoiadores nas ruas para mais manifestações em apoio ao ex-presidente. "Isso poderia gerar reações populares e mobilizações", diz Capitão Augusto, deputado federal pelo PL em São Paulo e um dos vice-presidentes do PL nacional.
Discurso de "apaziguar os ânimos" defendido no âmbito do PL da Anistia cairia por terra. A aposta seria em torno do aumento dos tensões políticas. Um integrante do PL disse ao UOL que a prisão de Bolsonaro impactaria "em todas as tentativas de pacificação".
Partido fala em ofensiva e aumento de pressão no Congresso. "A discussão do PL da Anistia está em nosso no radar, temos que reparar os exageros e ilegalidades cometidas", afirmou o deputado do PL.
Tom de Bolsonaro agrada cúpula do PL
Desempenho de Bolsonaro diante de Moraes agradou à cúpula do PL. O UOL apurou junto a integrantes da sigla que o ex-presidente começou o depoimento nervoso, mas teria conseguido aliviar a tensão com piadas e cortejos ao ministro nas respostas —o que desagradou a ala mais radical da legenda.
Avaliação é de que Bolsonaro desceu do "palanque". Capitão Augusto disse que o ex-presidente não demonstrou "recuo de convicções". "Bolsonaro não estava em um palanque político, agiu com a responsabilidade que o cargo que ocupou exige. Isso demonstra maturidade política e inteligência estratégica. Foi uma manifestação de respeito às regras do jogo."
Ex-presidente adotou um tom "mais institucional, sem abrir mão de seus valores", diz o deputado. Alguns integrantes do PL ouvidos pela reportagem afirmaram que a aposta de Bolsonaro foi adotar o estilo que utiliza no dia a dia com pessoas próximas. "Tem gente [no partido] que quer que ele vá para a guerra", disse um membro da sigla. Mas, a opção pelo tom "sereno" teve como objetivo diminuir a temperatura com a Suprema Corte.
Ironia também esteve presente nas respostas. Quando Bolsonaro perguntou a Moraes se ele poderia fazer uma brincadeira, e prosseguiu perguntando se o ministro gostaria de ser seu vice em 2026, ele reforçou, para aliados, que trabalha com o cenário de candidatura à Presidência da República no ano que vem —apesar de estar inelegível.
Bolsonaro não dormiu na véspera do interrogatório, dizem pessoas próximas. No dia seguinte ao depoimento, Bolsonaro disparou mensagens a uma pessoa próxima às 5h40 para perguntar sobre seu desempenho.
Um dia depois do julgamento, aliados mais radicais do PL relataram irritação diante de uma postura "mais amena" de Bolsonaro. O ex-presidente chegou a pedir desculpas em um momento do interrogatório —ao ser questionado por Moraes sobre acusações feitas por ele contra ministros da Suprema Corte em reuniões de governo.
Radicais temem que postura "simpática" não resulte em abrandamento de pena. Em caso de condenação, a estratégia de adotar uma postura amena poderia esvaziar a narrativa de que Bolsonaro foi vítima de um juiz autoritário —alvo central dos discursos do ex-presidente em manifestações de ruas e palanques.
Pessoas próximas ao ex-presidente disseram que ele "humanizou" Moraes. O comportamento, para aliados mais radicais, ajudou a formar uma imagem de que o ministro é uma pessoa simpática. Contudo, momentos depois, integrantes do partido disseram que esses correligionários teriam mudado de percepção.