Mesmo com juros altos, 'resiliência' da economia 'surpreende', diz Galípolo

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, criticou na noite de hoje o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) pelo governo federal, evitou fazer previsões econômicas, mas demonstrou surpresa ao falar sobre da "resiliência" da economia brasileira, que "surpreende".
O que aconteceu
Galípolo falou de sua surpresa ao tratar dos indicadores analisados pelo BC para subir a taxa de juros. Ele falava da necessidade de olhar o saldo comercial e a atividade da economia e do mercado de trabalho. "E aí acho que é importante ressaltar: a gente segue numa economia que vem surpreendendo, ou vem apresentando uma resiliência surpreendente para o nível de taxa de juros que a gente tem", disse ele em debate sobre a "Conjuntura Econômica Brasileira", promovido pelo Centro de Debate de Políticas Públicas.
O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 1,4%. O resultado do primeiro trimestre do ano é em relação ao quarto trimestre do ano ado.
A maior surpresa é quanto ao nível de emprego. O próprio presidente do BC chamou a atenção para o fato de o desemprego ter fechado em 6,6% no trimestre terminado em abril. "É a pergunta central pra todos que estão aqui nessa sala: (...) conseguir explicar como é possível você ter uma economia que tem uma taxa de juros real que se aproxima de 10% e estar em pleno emprego", disse.
Como é possível você estar numa taxa de juros, ou tá convivendo quatro anos com taxa de juros de dois dígitos, e ainda assim estar rodando com uma economia em pleno emprego.
Gabriel Galípolo, presidente do BC
Crítica ao IOF
Galípolo voltou a criticar o aumento do IOF pelo governo federal. Ele disse que seus efeitos sobre o câmbio podem gerar o receio de que o governo quer fazer "controle de capitais, o que não é desejável". O presidente do BC também lembrou que o imposto é regulatório, e não deveria ser usado para aumentar a arrecadação.
Mas Galípolo também pediu paciência. "Está em discussão ainda o modelo final do IOF, que pode ser recalibrado e alterado", lembrou. "A gente tem de aguardar o desenho final para entender de que maneira deve ser incorporado em nossas projeções."
Tarifaço e previsões
O Brasil estaria em uma situação "mais vantajosa" que outros países na guerra tarifária de Donald Trump, presidente dos EUA. Galípolo lembrou que, ao contrário do México, o Brasil não está muito interligado à cadeia produtiva norte-americana e tem parceiros comerciais alternativos, além de a economia brasileira ser "muito mais dirigida pela demanda doméstica do que por uma demanda de exportação", afirmou.
Galípolo também evitou fazer previsões sobre o futuro da economia. "Hoje a recomendação é para a gente tentar não se amarrar e se comprometer com algum tipo de guidance [orientação]", afirmou.
Essa tentativa de criar algum tipo de atalho para ganhar credibilidade pode ser muito custosa para o Banco Central se você tiver que rever essa trajetória.
Gabriel Galípolo, presidente do BC