Ex-Ídolos leva música brasileira às salas dos EUA : 'A escola adora'

Foi ao som suave de "Cai, Cai, Balão", cantado por vozes infantis em uma sala de aula nos Estados Unidos, que o Brasil inteiro se viu transportado de volta à infância. O vídeo, gravado pelo músico e educador Liel Vini, viralizou nas redes como um sopro de afeto e memória. De forma quase mágica, crianças americanas aram a cantar em português, espalhando doçura e brasilidade pelo mundo, e transformando o cotidiano escolar em uma ponte cultural entre países.
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Hoje professor em uma escola reconhecida nos EUA por valorizar a criatividade docente, Liel dá aulas de música para crianças de 5 a 11 anos. É nesse ambiente que ele insere elementos das culturas representadas na turma, incluindo o português e a música brasileira. "Eu comecei a colocar todas essas línguas, especialmente das nacionalidades representadas na sala, e percebi que as crianças gostavam muito."
A ideia de apresentar músicas brasileiras nasceu ainda durante um estágio em educação infantil. No início, ele ensinava uma ou duas músicas por ano, como forma de compartilhar sua cultura com os alunos. Com o tempo, percebeu que aquilo despertava empatia, interesse e conexão. Foi assim que surgiram os "mini-queridos", como ele carinhosamente chama nos vídeos que publica.
A gravação de "Cai, Cai, Balão" foi feita de forma despretensiosa. Emocionado com o momento, Liel pediu que filmassem, mandou para a família e, após insistência da mãe e do irmão, postou nas redes. No dia seguinte, acordou com mais de um milhão de visualizações. "A escola adora", conta ele, entre risos, ao falar do entusiasmo dos pais, que até cogitam transferir os filhos para a turma dele.
Desde então, seus vídeos seguem viralizando. No TikTok, os registros dos "mini-queridos" já ultraam 5,7 milhões de curtidas. Só "Alecrim Dourado" tem mais de 13 milhões de visualizações. No Instagram, Liel recebeu mensagens de nomes como Xuxa, Caetano Veloso, Marisa Monte, Ana Castela e Rogério Flausino. "Me deu muita esperança de continuar postando, vivendo e ensinando."
Mais do que apenas cantar, ele ensina contexto cultural, pronúncia, ritmo e significado das músicas. O processo é cuidadoso: "Começa ensinando a pronúncia das palavras; depois a pronunciação rítmica; depois vamos usar as mãos e bater palmas no ritmo. Depois ensino eles a cantarem e começo a ensinar o contexto da música e o que ela representa no Brasil."
Além de canções infantis, Liel inclui clássicos da MPB e até hits atuais. E já se prepara para lançar seu segundo álbum, Dawn, que fala de saudade, relacionamentos e os desafios de viver entre dois países. "Tenho muita vontade de realizar projetos musicais no Brasil a partir do ano que vem."
Quem é Liel Vini
Nascido em Lins (SP) e criado em Promissão, Liel, ou Eliel Vinicius, seu nome de batismo, teve seu primeiro contato com a música na igreja evangélica, onde a avó era pastora. Aos sete anos, já em Uberlândia (MG), foi descoberto por um professor e fez sua estreia na TV, cantando "Asa Branca" e tocando flauta doce e piano em um programa local. O nome do musical já parecia presságio: "Um pouquinho de Brasil".
Ainda criança, venceu diversos concursos regionais e, aos 17 anos, participou do programa Ídolos (TV Record), recebendo elogios unânimes dos jurados. A experiência, porém, também trouxe exposição e ataques homofóbicos nas redes. "Recebi um comentário negativo e isso fez com que eu deixasse de buscar ser reconhecido pelo Ídolos", conta. Abalado, quase desistiu da música.
Depois, mudou para Bauru (SP), cursou música e, em 2014, foi aprovado para bolsas de estudo na Índia e nos EUA. Por fim, seguiu para Atlanta, onde se sustentou com ajuda de uma igreja local. "Procurei igrejas me oferecendo para ajudar na música em troca de um lugar para ficar." Dando aulas e cantando nos cultos, fincou raízes nos EUA e não voltou mais a morar no Brasil.
Entre desafios, como depressão e dificuldades financeiras, e conquistas, como se tornar professor em uma das escolas mais respeitadas do país, Liel viu seu sonho de representar o Brasil no exterior se tornar realidade. Hoje, leva música, afeto e identidade para dentro da sala de aula, e para milhões de brasileiros do outro lado da tela.