Israel intercepta barco que levava ativista Greta Thunberg
Israel intercepta barco que levava ativista Greta Thunberg - "O show acabou", diz governo de Israel, após tomada de embarcação que seguia para Gaza. Ativistas denunciam "sequestro". Ministro instrui militares a exibirem para ativistas vídeo com atrocidades cometidas pelo HamasMilitares de Israel interceptaram e tomaram o controle na madrugada desta segunda-feira (08/06) de um barco de ajuda humanitária que se encontrava a caminho de Gaza. O veleiro Madleen, da iniciativa internacional "Flotilha da Liberdade", levava 12 ativistas a bordo, entre eles a sueca Greta Thunberg.
Imagens divulgadas pela "Flotilha da Liberdade" mostraram os ativistas com as mãos para o alto no interior da embarcação, enquanto uma voz ordena em inglês para que eles atirem seus celulares no mar. Fotografias divulgadas pelos israelenses também mostraram militares no deque do navio, distribuindo água e comida para os ativistas.
Segundo o governo israelense, a embarcação será levada para o porto Asdode, no território de Israel, e os ativistas serão enviados de volta aos seus países de origem. Os israelenses não esclareceram se eles haviam sido oficialmente presos, mas disseram que todos estavam "seguros".
Já a iniciativa Flotilha da Liberdade denunciou, em comunicado, o que chamou de "sequestro". "Os militares israelenses atacaram o [veleiro] Madleen em águas internacionais", diz o texto. "O navio foi abordado ilegalmente, sua tripulação civil desarmada foi sequestrada e sua carga, incluindo fórmula para bebês, alimentos e suprimentos médicos, foi confiscada", disse a iniciativa. "Israel está mais uma vez agindo com total impunidade."
Em uma série de publicações na rede X, o Ministério das Relações Exteriores de Israel criticou iniciativa da Flotilha da Liberdade, chamando o veleiro Madleen de "Iate do Selfie" e pintando os ativistas como "celebridades" que tentaram encenar uma "provocação midiática com o único objetivo de ganhar publicidade".
Já o ministro da defesa do país, Israel Katz, parabenizou os militares pela interceptação do barco e disse, por meio do seu porta-voz, que instruiu as Forças de Defesa de Israel (FDI) a exibirem para os ativistas imagens dos ataques de 7 de outubro executados pelo Hamas.
"A antissemita Greta e seus amigos que apoiam o Hamas devem ver exatamente o que a organização terrorista Hamas - que eles aram a apoiar e a agir em nome dela - realmente é”, disse Katz. "Eles devem ver as atrocidades cometidas contra mulheres, idosos e crianças, e entender contra quem Israel está lutando para se defender."
No dia anterior, Katz já havia se referido à ativista Greta Thunberg como "antissemita" ao anunciar que os israelenses não permitiriam a chegada da embarcação a Gaza.
Tentativa de romper bloqueio israelense a Gaza
O veleiro Madleen, com bandeira britânica, havia partido da Sicilia, na Itália, no dia 1° de junho. Segundo os organizadores, a missão tinha o objetivo de "entregar ajuda humanitária, romper o bloqueio israelense e dar visibilidade ao sofrimento contínuo no enclave palestino".
A bordo estavam 12 ativistas, entre eles a sueca Greta Thunberg, a alemã Yasemin Akar e o brasileiro Thiago Ávila, além da eurodeputada sa Rima Hassan. Segundo os ativistas a bordo do Madleen, a embarcação estava transportando fórmula infantil, alimentos, fraldas, produtos de higiene para mulheres, kits de dessalinização, suprimentos médicos e próteses infantis.
Ativistas ligados a iniciativa itiram antes da interceptação que a quantidade de ajuda era simbólica, mas que a iniciativa tentava chamar a atenção para o bloqueio imposto pelos israelenses a Gaza desde o início de março, que vem impedindo a atuação de organizações de ajuda humanitária no enclave palestino devastado pela guerra, onde vivem cerca de 2 milhões de pessoas.
Após uma parada no Egito, o barco prosseguiu no domingo (08/06) para sua etapa final da viagem: a costa de Gaza. No entanto, no mesmo dia, o governo israelense advertiu que não pretendia deixar os ativistas concluírem essa etapa.
"Ordenei às FDI [Forças de Defesa de Israel] que atuem para impedir que o veleiro Madleen chegue a Gaza. À antissemita Greta e seus amigos, digo claramente: regressem, pois não chegarão a Gaza", disse o ministro Katz no mesmo dia. Katz acrescentou que Israel não permitiria que ninguém rompesse o bloqueio naval ao território palestino, alegando que a medida visa impedir o Hamas de importar armas.
No mesmo dia, os ativistas a bordo do veleiro começaram a divulgar vídeos se antecipando à interceptação pelos israelenses. Em uma mensagem, Greta Thunberg disse que, se as pessoas estavam vendo seu vídeo, isso significaria que ela havia sido "interceptada e sequestrada" por "forças que apoiam Israel".
No início de maio, outra tentativa da Flotilha da Liberdade de chegar a Gaza por mar já havia fracassado. Na ocasião, a embarcação Conscience, que havia zarpado de Malta, teve que cancelar sua viagem. Ativistas denunciaram que a embarcação foi danificada por drones e culparam as forças israelenses.
Em publicações nesta segunda-feira, o Ministério das Relações Exteriores de Israel tentou ridicularizar a quantidade de ajuda humanitária de ajuda que estava a bordo do veleiro Madleen. "A pequena quantidade de ajuda que não foi consumida pelas 'celebridades' será transferida para Gaza por meio de canais humanitários reais", disse a pasta.
"Mais de 1.200 caminhões de ajuda entraram em Gaza vindos de Israel nas últimas duas semanas, e cerca de 11 milhões de refeições foram transferidas pela GHF diretamente para os civis em Gaza", acrescentou o ministério.
Recentemente, os israelenses aram a permitir apenas a atuação de uma obscura organização sem experiência para distribuir alimentos no enclave. Chamada de Fundação Humanitária de Gaza (GHF), ela tem sido criticada por desorganização na distribuição e vem sendo acusada por especialistas da área de ser uma organização de fachada que tem como objetivo forçar a evacuação de palestinos de vastas áreas do enclave.
Reações
A interceptação do veleiro Madleen nesta segunda-feira foi criticada por grupos de solidariedade aos palestinos e pelos governos do Irã e Turquia, além da Autoridade Palestina e o Hamas.
sca Albanese, relatora especial da ONU sobre a situação dos direitos humanos nos territórios palestinos, disse: "A jornada de Madleen pode ter terminado, mas a missão não acabou. Todos os portos do Mediterrâneo devem enviar barcos com ajuda e solidariedade para Gaza".
Já o ministério das Relações Exteriores da Autoridade Palestina, que governa trechos não ocupados da Cisjordânia, agradeceu os ativistas pelos seus "esforços para romperem o cerco na Faixa de Gaza".
"O Ministério das Relações Exteriores e Expatriados aprecia muito os seus esforços, que implicaram elevados riscos no mar, por este nobre objetivo humanitário de apoiar o nosso povo na Faixa de Gaza, sujeito às mais hediondas formas de genocídio, limpeza étnica, perseguição e fome", disse a pasta, em comunicado.
Já o grupo Hamas, que atua na Faixa de Gaza, qualificou a interceptação "terrorismo de Estado" contra ativistas que procuravam "romper o cerco e denunciar o crime de fome" perpetrado por Israel
"A interceptação do navio Madleen no mar, impedindo-o de entregar ajuda simbólica ao nosso povo face a uma guerra genocida, constitui terrorismo de Estado organizado, uma violação flagrante do direito internacional e um ataque a voluntários civis que atuam por razões humanitárias", afirmou o Hamas, grupo que é classificado como terrorista pelos EUA, União Europeia e Israel.
O regime do Irã, por sua vez, acusou Israel de ter praticado um ato de "pirataria"
O governo da Turquia se referiu ao episódio como "um ataque hediondo" e uma "violação do direito internacional". A interceptação do Madleen ocorreu pouco mais de 15 anos depois que os comandos israelenses realizaram um ataque ao Mavi Marmara, um navio que também fazia parte da Flotilha da Liberdade. Na ocasião, dez ativistas, todos de nacionalidade turca, morreram durante a interceptação da embarcação. O episódio provocou tensão nas relações entre a Turquia e Israel.
jps (ots)